quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Só um conto.


Sentados na pedra olhando o mar, estavam acompanhados por uma alegre embriaguez só pelo fato de estarem juntos... Ali...
Era novembro, um final de tarde nublado, sabiam que o por de sol naquele lugar era fantástico, mas o céu estava cinza, mas isto não era importante. Talvez porque o sol brilhava-lhes por dentro.
Olhavam-se não só com amor, mas com admiração...
Quanto tempo haviam esperado? Agora já não importava saber, tinha valido a pena cada minuto da espera.
Havia entre eles um silêncio cúmplice, a respiração era ofegante e secava-lhes a garganta a emoção que sentiam... Tinham sede um do outro.
Naquele momento as palavras se ditas, não teriam sentido algum, por isso permaneciam calados, conversando apenas com olhares.
Tocavam-se vez ou outra, só para confirmar que não estavam vivendo em um sonho.
Tinham passado o dia passeando pela cidade, visitando os pontos turísticos, mas nada se comparava à beleza que ela via quando encontrava o seu olhar.
Riram muito, falaram sobre tantas coisas... Agora o momento era de só de sentir, por isso dispensaram as palavras pequenas que não poderiam traduzir a grandeza de seu sentimento.
Enquanto ficaram ali tiveram tudo o que precisavam... Um ao outro! E eles adoravam estar juntos.
Mas então, tudo se transformou em nada...
Ela ainda estava ali e olhava, mas não o enxergava. Como era possível?
Tudo estava errado, assustadoramente errado e impreciso.
Será que deveriam ter falado? Será que deveriam ter prestado mais atenção ao que não foi dito?
Será porque eles quiserem ser o que já eram? E quiseram ter o que já tinham?
E por estarem assim tão ligados... Distraíram-se um do outro?
Quando se tem o que eles tinham, não se precisa buscar por mais nada, talvez ai eles tenham se perdido, pois acreditavam que poderiam ter e ser mais do que já eram...
Clarice Lispector

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